O genial músico Tricolor, Hermeto Pascoal, morreu na noite deste último sábado (13/09), aos 89 anos. O artista nordestino das raízes mais profundas da nossa arte popular estava internado no hospital Samaritano Barra, no Rio de Janeiro, desde o dia 30 de agosto com o quadro de fibrose pulmonar. Apelidado de “Bruxo”, pelo enorme talento que o permitia transformar qualquer barulho de objeto ou som inusitado em uma melodia marcante, Hermeto faleceu em decorrência das “complicações respiratórias derivadas de um quadro avançado de fibrose pulmonar”, segundo informou o Hospital Samaritano Barra, onde o artista estava internado desde 30 de agosto. Entretanto “bruxos” como Pascoal não morrem nunca, exatamente porque nos deixou um imenso legado vivo da genuína arte brasileira.
Nascido em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, Alagoas, Hermeto Pascoal é um compositor, multi-instrumentista e arranjador brasileiro, amplamente reconhecido como um dos músicos mais inventivos e geniais do mundo.
Sua história começa no sertão alagoano, onde nasceu com albinismo e começou a tocar oito baixos (uma sanfona) ainda criança, acompanhando seu pai. Mudou-se para o Recife ainda jovem e, posteriormente, para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades.
Na década de 1960, integrou o Sambrasa Trio e, mais importante, o revolucionário Quarteto Novo (com Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barres), que fundiu o forró pé-de-serra do Nordeste com o jazz e a música de vanguarda, tornando-se um marco na música instrumental brasileira.
Seu trabalho ganhou projeção internacional após ser descoberto por Miles Davis, que ficou tão impressionado que incluiu uma composição de Hermeto (“Nem Um Talvez”) em seu álbum Live-Evil (1971), creditando-o simplesmente como “Brazilian Genius”.
A partir de então, Hermeto liderou seu próprio grupo, Hermeto Pascoal e Grupo, criando uma música complexa, orgânica e alegre, que mistura free jazz, música erudita contemporânea e todas as raízes da música popular brasileira (especialmente o forró e o baião). Seus arranjos são densos e sofisticados, mas soam orgânicos e dançantes.
Sua excentricidade criativa é lendária: ele compõe músicas inspiradas por animais, grafando partituras com notação própria, e é famoso por transformar chaleiras, brinquedos, água e até mesmo o som de uma pedra em instrumentos musicais. Seu projeto mais famoso é “Calendário do Som”, onde compôs uma música para cada dia do ano de 1999, destinada a ser executada na data específica.
Um virtuose do piano, saxofone, flauta, sanfona e de praticamente qualquer instrumento que toque, Hermeto Pascoal é um verdadeiro fenômeno natural da música. Ele não se prende a gêneros, categorias ou indústrias, vivendo exclusivamente para compor e tocar, sendo venerado por músicos no Brasil e no mundo como um dos gênios absolutos da música.

