A polêmica que travamos sobre o caráter do “8 de Janeiro” de 2023 longe de qualquer academicismo, que nada serve a não ser para enganar os “tolos intelectuais” dos gabinetes universitários, tem a tarefa de esclarecer as gerações mais novas, que não vivenciaram os “anos de chumbo” da Ditadura Militar no país, quem são os verdadeiros “mandantes” dos rumos políticos desta nação semi-colonial e que estes “senhores imperiais” estão bem longe dos nossos quartéis tupiniquins, habitando secularmente “The Pentagon”. É neste contexto que o alinhamento integral do governo burguês da Frente Ampla com a Nova Ordem Mundial, lhe garante uma “cobertura vacinal” completa contra as pseudos tentativas golpistas dos patéticos militares bolsonaristas de “pijama” e suas hordas desqualificadas de lumpens.
Fazendo um resgate histórico, para compreender o que afirmamos, voltamos para o ano de 1977, quando o então Ministro do Exército, Sylvio Frota, articulou um movimento golpista com outros comandantes militares pra impedir a candidatura de João Figueiredo ao Planalto e depor o presidente Ernesto Geisel, que iniciava o processo político junto com Golbery do Couto e Silva que ficou conhecido como o de uma “Abertura Lenta, Segura e Gradual” do regime militar. Frota, um assassino confesso e com muito prestígio na caserna, não aceitava que Geisel e Golbery iniciassem o projeto da Anistia, mesmo que restrita.
Em meados daquele 1977, as duas alas das Forças Armadas, as dos falecidos generais Castello Branco e Costa e Silva, adversárias políticas “ressuscitaram” nas figuras do presidente Ernesto Geisel e do Ministro do Exército, Sylvio Frota, um enfrentamento parecia inevitável e iminente. Quando Frota percebeu que o presidente Geisel havia escolhido como seu sucessor, João Figueiredo, chefe do SNI (atual ABIN), com o objetivo de dar continuidade ao processo de Abertura e Anistia, o general “linha dura” decidiu deflagrar um golpe de Estado, com tanques e artilharia pesada contra o Palácio do Planalto.
Ao saber do avanço da articulação golpista de Frota, que já havia “declarado” guerra, Geisel conversou com Golbery no dia 7 de outubro de 1977, e selaram o expurgo do ministro do Exército. “Fique quieto. Até quarta-feira o assunto estará liquidado”, segredou Golbery ao aliado Humberto Barreto. O segundo a ser avisado por Geisel foi o general Hugo Abreu: “Vou tirar o Frota”, foi o estopim para a marcha acelerada da “ala dura” das FFAA para derrocar o presidente pela via da violência armada.
O diálogo entre Geisel e Frota sobre a “degola” do general golpista foi tenso, segundo o relato de um jornalista íntimo dos bastidores do Planalto:
— Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.
— Eu não peço demissão — respondeu Frota.
— Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não vai pedir demissão, vou exonerá-lo.
Ao ato de “depuração” da extrema direita do Regime Militar realizado por Geisel e Golbery, Frota tentou levantar-se rapidamente. Convocou uma reunião do Alto-Comando e outros generais. Aliado de Frota, o tenente-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o “Major Tibiriçá” do DOI, recebeu a incumbência de buscar os generais no aeroporto de Brasília. Ao seu lado, também estava o major Sebastião Rodrigues de Moura, o “Curió torturador” da Guerrilha do Araguaia. A “linha Dura” esperava o importante apoio do general Bentes Monteiro, do Comando Militar da Amazônia, este por sinal acabou sendo o candidato a presidente da república pelo MDB no Colégio Eleitoral, contando com a simpatia política de toda a esquerda reformista, inclusive a Convergência Socialista, hoje PSTU.
Os militares golpistas “mostraram mais de 300 coquetéis molotov no chão e explicaram a Frota: ‘O senhor está vendo isso aqui. Sabe o que é? É para defendê-lo e atacar o Palácio do Planalto”, revelou posteriormente o general Enio Pinheiro.
Sob um clima de tensão em Brasília, o comandante militar do Planalto, general Heitor Furtado Arnizaut de Mattos, e o comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada, general Roberto França Domingues, casado com uma filha do general Orlando Geisel, aliaram-se na defesa militar do presidente Geisel, fechando as portas para a intentona da extrema direita. Contam até que apesar da idade, os generais Figueiredo e Leitão foram até o teto do Palácio com metralhadoras anti-aéreas para se precaver de um possível bombardeio de aviões pilotados por brigadeiros golpistas.
Entretanto o “assalto ao Planalto” estava fadado previamente ao fracasso, independente da correlação das forças militares internas. A linha política defendida por Geisel e Golbery, da “Abertura Lenta e Gradual” do regime gorila tinha sido traçada bem longe de Brasília, mais concretamente em Washington pelo presidente Carter, o Democrata que ocupava a Casa Branca desde 1976. Apesar do Alto Comando das Forças Armadas serem majoritariamente alinhados com Frota e seus generais de “linha dura”, chegavam ao ridículo de considerar Golbery como “representante da Internacional Comunista de Moscou”, a ordem de sustentar Geisel partiu do Pentágono e o grosso da oficialidade tupiniquim acatou disciplinadamente.
Desde o golpe militar de 1964, urdido diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA, onde ouve uma depuração absoluta das Forças Armadas de qualquer vestígio de algum militar nacionalista (estes foram para a reserva ou saíram do país) o Alto Comando Militar brasileiro é treinado e subordinado linearmente aos generais do Pentágono, isso não mudou em nada com a ascensão da “Nova República“ ou mesmo com os governos petistas da Frente Popular. Falar hoje em golpe de militares Bolsonaristas da extrema direita sem o aval da Casa Branca, é quase uma anedota narrada para distrair crianças e tolos.
Diante desse relato histórico podemos ter uma mínima noção do que poderia ser realmente uma movimentação conspirativa na caserna, e que desembocaria na organização de um golpe militar, ou pelo menos na tentativa da “intentona” de um setor das FFAA contra um governo estabelecido institucionalmente.
Estabelecendo uma comparação histórica e conceitual com o “8 de Janeiro de 2023”, a pergunta central que os Marxistas Revolucionários lançamos é a seguinte: Será que os Bolsonaristas Lumpens, com bandeirolas e bíblias nas mãos e completamente desarmados, iriam dar um golpe de Estado no governo da Frente Ampla? Obviamente que não!
A resposta é clara e evidente: não havia a menor possibilidade política e militar de tal fato ocorrer!!! Isto porque a Governança Global do Capital Financeiro, em particular o conjunto dos governos imperialistas, desde os Democratas nos EUA que habitavam a Casa Branca até a Social Democracia da União Europeia, jogaram todas suas fichas para derrotar Bolsonaro e eleger Lula, o representante programático perfeito para impulsionar a Nova Ordem Mundial no Brasil. Não seriam um bando de patetas de extrema direita, desarmados, sem apoio militar e carentes do aval de setores chaves da classe dominante e do imperialismo ianque, que iram derrubar o governo recém eleito ou mesmo ameaçá-lo seriamente.
Quem sustenta a tese estapafúrdia de que a CIA deu apoio operacional a manifestação Bolsonarista para derrubar o governo Lula, como levantou Pepe Escobar ou mesmo para “tentar desestabilizá-lo”, como afirma Rui Pimenta (PCO), busca encobrir que a manifestação Bolsonarista serviu de fato para em um momento inicial fortalecer politicamente o governo da Frente Ampla burguesa, e também em um sentido mais estratégico, deixar a gerência petucana completamente refém dos operadores centrais da Governança Global do Capital Financeiro no Brasil, a saber: STF, Rede Globo e o Alto-Comando das FFAA.
Os Marxistas Leninistas desmascaramos quase solitariamente esta farsa desde o início, refutando dia a dia, artigo atrás de artigo em nosso Blog, a tese fantasiosa do golpe militar Bolsonarista. Denunciamos que a Casa Branca desde a posse de Lula monitora diretamente as FFAA brasileiras no sentido de impor no Alto Comandante generais totalmente alinhados com a “Pauta Democrática” empunhada na época por Biden e que vem impondo seus gerentes da centro-esquerda na América Latina como elemento de contenção contra a profunda crise capitalista (Lula, Arce, Petro, Boric, Fernandez…).
Não havia, portanto, a menor possibilidade de um golpe Bolsonarista derrubar o novo governo e, nem muito menos, o ocorrido em 8 de janeiro pode ser considerado seriamente como uma “tentativa” de fazê-lo! A cantilena distracionista de que os generais Bolsonaristas estavam preparando um golpe (inclusive com o apoio da CIA!) serve apenas para a esquerda corrompida, um arco que vai do PT ao PCO, passando pelo PSTU, PSOL e PCdoB, camuflar os ataques que o governo burguês da Frente Ampla já está perpetrando contra os trabalhadores e a população pobre, garantindo-lhe um importante fôlego político. Esse é o verdadeiro conteúdo do espantalho político e midiático alardeado em torno do inexistente “golpe” contra o governo Lula que hoje está em julgamento no STF!
* ARTIGO EXTRAÍDO DO LIVRO “ALTO COMANDO DAS FORÇAS ARMADAS DO BRASIL – ACFA: QUEM TE USA PARA SUA PRÓPRIA GEOPOLÍTICA?“