O presidente da China capitalista, Xi Jinping, apresentou sua proposta de uma nova “governança global”, durante a 25ª cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX). Nada de novo foi formulado pelo burocrata restauracionista Xi, além da demagogia populista de “construir um mundo mais justo e equitativo”, ou seja, um proto-neoimperialismo asiático, no marco da convivência harmônica com o velho e decadente imperialismo ianque, ambos submetidos aos investimentos e ordenação política da Governança Global do Capital Financeiro.
Um dos “princípios” do neoimperialismo chinês prevê o “multilateralismo”. Segundo as palavras vazias de Xi: “Devemos defender a visão de governança global baseada em ampla consulta e contribuições conjuntas para o bem comum, fortalecer a solidariedade e a coordenação e nos opor ao unilateralismo”. Como todos podem ler, não há uma única palavra que faça a mínima menção de socialismo, nem mesmo para enganar tolos Jinping quer lembrar que é dirigente de um partido que ainda se diz “comunista”, uma farsa completa!
O embuste do novo “mundo multipolar e mais justo”, é apenas uma cortina de fumaça para iludir o proletariado mundial de que a exploração de sua mais valia pelos asiáticos, em oposição aos norte-americanos, seria “justa e humanista”.
O fortalecimento da “cooperação” econômica e da parceria financeira estratégica defendido pelo gigante capitalista asiático, trata-se da abertura nos continentes de rota comerciais das grandes corporações imperialistas, e na “defesa das regras de livre comércio e seu papel de destaque nos assuntos internacionais”.
O capitalismo foi restaurado na China há cerca de três décadas atrás. Além disso, como demonstramos em diversos artigos, tornou-se uma potência proto-imperialista há mais de dez anos. É certo que se considerarmos a produtividade da economia como um todo, o imperialismo da China está muito mais atrasado do que os EUA, entretanto esse elemento econômico não desmonta a caracterização marxista sobre a China, da mesma maneira que o imperialismo europeu ou mesmo o japonês são apêndices da América do Norte, sem que esse dado concreto elimine o caráter imperialista desses blocos ou países.
A exquerda reformista que nega a natureza imperialista da China, está irremediavelmente espalhando a confusão política e programática no interior da vanguarda do movimento operário, publicitando o embuste do novo “mundo multipolar”, e apresentando o bloco capitalista dos Brics como uma alternativa falsamente “socialista” ao imperialismo ianque.
Para os apologistas das particularidades do “socialismo chinês”, os negócios capitalistas internacionais realizados por Pequim com os países periféricos são “totalmente diferentes do imperialismo norte-americano”, pois se caraterizariam pela falta de “belicosidade” e “respeito a soberania das nações”.
A exquerda reformista, na defesa do “imperialismo solidário”, costuma citar o fato de que a “China não possui bases militares em nenhum lugar do planeta”, ao contrário do que acontece com os EUA. O CEO Xi Jinping reforça essa linha ideológica da Social Democracia quanto afirma: “A China apoia os países na defesa de sua soberania e independência nacionais” (discurso na OCS).
Entretanto o que os “multipolaristas” não dizem, é que as taxas de lucratividade capitalista das grandes corporações chinesas sobre os países semicoloniais são exatamente as mesmas das multinacionais norte-americanas, e se reproduzem com os mesmos mecanismos econômicos da acumulação do capital sobre a mais valia extraída do proletariado.
Mais além da demagogia vazia dos burocratas restauracionistas do quilate da camarilha de Xi Jinping, a China nunca forneceu um único fuzil aos guerrilheiros da heroica Resistência Palestina, e muito menos o governo do PCC jamais apoiou uma luta sequer de libertação dos povos africanos, apesar de se apropriar de muito dos recursos naturais e humanos do continente negro.
Nunca ouvimos uma única palavra de Pequim quando ocorreu o golpe militar na Bolívia em 2019, apesar de explorarem economicamente quase todo o lítio do país andino. O inexistente internacionalismo proletário chinês, na verdade é um proto-imperialismo “pacífico” de bons negócios, liderado pelos falsários comunistas do PCC, que nem de longe se assemelha ao genuíno socialismo proposto por Marx e Lenin.
A China “socialista” de hoje (na realidade capitalista de fato), nem chega a ser uma vaga caricatura do que foi a antiga URSS, que mesmo comandada pelo stalinismo, representava um muro real de contenção ao imperialismo, porém Xi é apenas um gerente de “segunda linha” da Governança Global do Capital Financeiro.
A “tese” da “Multipolaridade ou Barbárie”, que praticamente engloba todo o campo do reformismo e neostalinismo, não é somente um “equívoco teórico”, significa que a esquerda domesticada foi corrompida materialmente pelos interesses econômicos e políticos de uma classe social antagônica ao proletariado mundial.
A ascendente burguesia chinesa, que elevou seu patamar mundial a categoria de segunda “potência mundial”, é produto direto dos investimentos trilionários do capital financeiro no país asiático, este montante de reservas monetárias que vieram das corporações imperialistas não foi “doado filantropicamente” a China para que se desenvolvesse, foi investido para reprodução e retorno do capital, agora multiplicado, para as mãos dos grandes rentistas globais, que tem na sino burguesia sua sócia minoritária.
Logicamente o “segredo” encoberto do “milagre econômico” do gigante asiático não é o pseudo “socialismo chinês” com suas “peculiaridades nacionais”, mas o enorme potencial da classe operária, educada cientificamente e formada tecnicamente nas excelentes escolas e faculdades do antigo Estado Operário, agora destruído e substituído por um simulacro de regime “socialista de mercado”.
É evidente que o governo do Partido Comunista Chinês conseguiu feitos econômicos enormes sob o impulso de um gigantesco investimento financeiro internacional, no curso da restauração capitalista do antigo Estado Operário.
Na China, com 1,4 bilhão de habitantes, a fome e a pobreza extrema foram eliminadas, o desenvolvimento tecnológico foi gigantesco e em 30 anos passou de um país atrasado para uma “fábrica do mundo”. Tudo isso dirigido por um Partido Comunista burocrático que aplica uma política restauracionista chamada de “um país, dois sistemas” em que ainda coexistem o capitalismo mais “selvagem” e o planejamento econômico central.
O Partido Comunista Chinês, por enquanto, conseguiu disciplinar a “besta” da anarquia do mercado e o setor capitalista privado é fortemente regulamentado. Nos últimos anos vimos como os setores corporativos de construção, educação e financeiro foram drasticamente monitorados e advertidos por alguns “excessos” cometidos e que colocaram a autoridade do Partido Comunista em risco.
Com a chegada de Xi Jinping como Presidente da República e líder máximo do Partido, inicia-se uma nova etapa na qual se aprofunda o desenvolvimento do capitalismo na China, promovendo políticas destinadas a favorecer o poder do rentismo financeiro e das grandes corporações imperialistas que tem no país sua “segunda casa”.
Do lado oposto, os Estados Unidos enfrentam uma realidade marcada pelo declínio econômico, social e cultural. O imperialismo ianque está deixando de ser o poder absoluto hegemônico. E a única forma que os EUA podem defender sua posição de primeira potência é com sua violenta ofensiva econômica e militar. Os EUA incendiaram todas as regiões do planeta, seja com guerras, terrorismo ou golpes de Estado e usaram a supremacia cambial do dólar para chantagear países com seus ataques especulativos.
A “guerra” econômica e os bloqueios financeiros e comerciais contra os países periféricos foram possíveis graças a um dólar fora do padrão-ouro e sustentado pela economia do petróleo. Assim o FED norte-americano tornou-se após a Segunda Guerra Mundial, o “cofre” do mundo, onde todos os governos nacionais compram seus títulos financeiros, inclusive o chinês seu principal cliente.
É neste contexto de debilidade do (petro)dólar, em que a China lançou uma campanha para desdolarizar uma parte de suas trocas comerciais, assinando dezenas de acordos para negociar em yuan e outras divisas. Paralelamente, promove alianças regionais como a OCS e os BRICS, nas quais até países governados por oligarquias reacionárias e corruptas, como a Arábia Saudita, têm demonstrado interesse.
Essa realidade do crescimento capitalista chinês e sua parceira cada vez mais estreita com a Governança Global do Capital Financeiro, como ficou demonstrado na farsa da pandemia do coronavírus, força o imperialismo ianque a tentar limitar o expansionismo chinês por meio de sanções econômicas enquanto aumenta as provocações militares em torno de Taiwan e do Mar da China abrindo bases nas Filipinas, inaugurando um escritório da OTAN no Japão e militarizando ainda mais a Coreia do Sul.
Por sua vez a burocracia restauracionista do gigante asiático não quer um confronto aberto com a Casa Branca e muito menos afugentar o enorme fluxo financeiro internacional destinado para potencializar a produção industrial de sua nação, por isso lança a retrógrada consiga de um “mundo multipolar”, ou seja, um mundo capitalista com dois imperialismos hegemônicos.